segunda-feira, 1 de agosto de 2011

6º Excerto do Livro "Contos de Sintra - Volume I"

     '...que faço eu aqui?... Esta negra imensidão... Outrora flamejante céu que agora como incandescente brasa respira debaixo de negro acolchoado manto que cobre as estrelas... Esta areia...negra e espessa areia...nem meus pés a calcam, nem meus pés a marcam... Fado duro, fado negro, sulfúreo céu um dia este deve ter sido, e em malfadado ser se tornou no seu apagar, como estranho destino o meu, que aqui meu esquecimento e a mim, nos colocou...
    Nem vivalma, nem morto aqui vejo... Sinto só o que não vejo, sinto só o que neste quase apagado céu envolto por negros mantos de terra e nuvens, como eterno crepúsculo ilumina em seu rubro breu, aquilo que em minha volta se esconde...
    Para onde caminho? Para onde vou? De onde venho? Estranho fado este que sai de minha apagada memória, que sem licença pedir, neste mortiço confim me colocou... Para onde vou? Para onde vou se em todo o olhar que em meu redor atiro, de nenhum lado eco algum me chega, com certeza ou sequer centelha que meu próprio caminho a mim me indique? Que farei?
    Serei eu ainda quem fui? Lembro-me eu acaso, do que fui, de quem fui, do que sou? Arde em mim ainda meu coração, por dor que não destrinço, longínquo amor que desconhecida saudade me deixa, onde fica, onde a deixou, o quê ou quem lá ma deixou...onde tudo começou...
    Onde tudo começou? Quem a continua, quem até aqui a continuou? Desterro este, sem abobadado céu, sem celestes fachos, sem noctívagas candeias mil nos céus, lembra-me pois o Averno, morada do que invisível usando Seu elmo É, passeando-Se entre Seus ex-mortais? Ou...lembra-me aquilo, algo, algo só, que quero eu, não conseguindo à realidade, à minha realidade trazer? Hades, será isto? Hades, estará aqui? Há-de meu fado mo dizer, mo mostrar, sem mais ardente dolo em mim mortalmente avivar? E se...'
    ...sua Humana consciência não se tivesse de novo apagado onde se encontrava ele, talvez não tivesse passado de novo para aquele visível Mundo aos olhos dos que dele faziam parte.
    ...ou continuaria ele em si consciente, rubramente o iluminando a imensidão da penumbra onde sozinho para nenhures caminhava, enquanto em silêncio visível era aos demais condenados e outros tais com medo de o ser, passageiro entre Mundo nosso e eterno desconhecido?

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